Ao parar para escrever sobre a páscoa do Lucas, percebo o quão difícil é expressar em palavras o que vivemos naqueles dias. A notícia, a doença, a partida. A rapidez com que tudo aconteceu. A maneira como o Lucas nos deixou. Mas, principalmente, a certeza do amor, cuidado e misericórdia de Deus em cada detalhe. Naqueles dias, as palavras de Santa Teresinha – sempre tão presente em nossas vidas – permearam meu coração: a vida é só um instante.
Do diagnóstico da leucemia à morte do Lucas foram três dias. Ao receber a notícia da doença, o sentimento inicial, de angústia, se transformou em esperança. Esperança de que o Lucas venceria, de que ficaria curado. Esperança de que, tão jovem, ainda teria muito tempo entre nós. Poucos dias depois, a internação, a piora no quadro de saúde, a morte. De fato, ele havia vencido, em Deus alcançara a vida eterna, mas meu coração, tão humano e despreparado, naquele momento não percebia isso.
Uma ligação na madrugada avisava que nosso amigo não havia resistido. A ida ao hospital para participarmos dos últimos momentos do Lucas, já com a morte cerebral confirmada, foi silenciosa. Há pouco menos de dois meses nos reuníamos para celebrar o sacramento que ele e a Letícia acabavam de receber: o matrimônio. Tão pouco tempo depois estávamos juntos novamente, dessa vez para vivermos a sua passagem. Era impossível não pensar na Letícia, nos pais e irmãos do Lucas. O desejo era de nos unirmos a eles. E assim o fizemos, junto de outros amigos mais próximos. Foram momentos dolorosos para o coração humano. Tempo de oração, espera e consolo.
Poucas vezes havia vivido tamanha espiritualidade. Até os últimos momentos de vida, o Lucas nos elevou ao céu, aproximou-nos de Deus. Nos uniu em oração. Fez crescer a nossa fé. Durante a vida nos inspirou a amar a Deus, na sua morte o fez ainda mais. Sua incontestável confiança na providência divina o acompanhou até o fim. Ele acolheu a sua cruz, aceitou a doença e entregou seu sofrimento a Deus. Pôde viver os últimos sacramentos – confissão e unção dos enfermos – e ofertar a sua vida, se despedir daqueles que amava e acolher em paz os planos de Deus. E, com a graça de Deus, pudemos estar com ele até a última batida do coração.
Aquele final de semana seria de muita alegria, de grandes celebrações, da confirmação de dois sacramentos: o matrimônio da Laís, irmã dele, com o André e a ordenação presbiteral do Cléber, um grande amigo. O Lucas, antes de perder a consciência, pediu que tudo acontecesse conforme o planejado, sem nenhum adiamento. E assim o fizeram. Naquela sexta-feira, mesmo dia em que o Lucas faleceu, à noite ocorreu a ordenação do, agora, padre Cléber. Após, fomos até a paróquia Nossa Senhora das Graças em São Leopoldo, onde o Lucas estava sendo velado. Daquela noite até a manhã seguinte, centenas de pessoas se deslocaram até o local para se despedir dele. Pudemos perceber que muitas vidas foram tocadas pela vida e testemunho dele.
No sábado pela manhã, naquela mesma paróquia, vivemos a missa de corpo presente e o enterro do Lucas. A igreja estava lotada. Através das palavras do padre Diego na homilia e do testemunho das pessoas que foram até o local para a despedida do Lucas, Deus nos confortava. À noite, o casamento da Laís e do André. Novamente, dessa vez nas palavras do padre Alex, Deus trazia consolo aos nossos corações e nos relembrava da importância dos sacramentos que vivíamos naquele final de semana. No dia seguinte, participávamos da primeira missa à comunidade celebrada pelo padre Cléber. Foi um final de semana inteiro em que vivemos juntos, nos amparando e nos confortando, com a graça de Deus.
Ao relembrar cada detalhe, retomo ao pensamento de Santa Teresinha, que mencionei no início, e posso confirmar: a vida do Lucas foi só um instante. A história dele, um presente de Deus. O testemunho dele, um presente à Deus. E não posso deixar de render graças por cada segundo da vida do Lucas, que alcançou a tantos e os inspirou – e continua a inspirar – à santidade. Aproveito ainda para escrever aqui, também como forma de louvor à Deus, a frase – de autoria que desconheço – que tomou os nossos lábios e os nossos corações naquele final de semana e que permeia até hoje: “em meio à tanta dor, não cesse o louvor em meus lábios e em meu coração”.
Letícia Fröhlich de Lima
20 de setembro de 2021